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domingo, 29 de novembro de 2009

Os Passos La Fora- Parte Final

É, meus caros, eu fiz de novo. Acho que todos já esperavam, eu mesmo já esperava, mas ainda consigo me surpreender comigo mesmo, com a minha capacidade de fazer esse tipo de coisa. Não posso ser hipócrita: eu gosto disso, realmente gosto. Não faço isso por ter algum trauma, por ser um doente, pervertido ou qualquer coisa do tipo. Eu sou um cara normal, do tipo que você vê aos montes por aí nas ruas. Talvez você esbarre com uns 50 caras como eu só no caminho até a padaria, para comprar o leite. Talvez esbarre com mais 50 ao ir até o colégio, ou até à farmácia. Eu sou só um cara comum com um talento. E com uma peculiaridade: gosto de matar.
Invadir a casa? Moleza, foi só pular o muro, fingir que forçava a maçaneta da porta da frente e me embrenhar pelo mato do quintal até a porta de trás, onde forcei a tranca da janela com total silêncio e penetrei na casa. Estava meio escuro, a dona da casa deixou a maioria das luzes apagadas, restando apenas uma luz na cozinha. Eu quase que tropecei em alguns móveis, por um descuido barato e vulgar, mas até que fiz bem meu “papel”. E alem do mais, todo esse jogo me excita, me deixa em ponto de bala, à beira de um orgasmo mental. Pude sentir à flor da pele o medo da garota, seu desespero e seu anseio de fugir, sua vontade de que aquilo fosse apenas um sonho ruim. Mas meus caros, eu não sou um sonho, oh não. Eu sou tão real quanto você possa ver, sentir e cheirar, e o que faço me faz sentir tão bem como chuva fria em noite de outono. É uma sensação única, sublime, só quem já passou por isso pode sentir como eu sinto. As emoções mistas dela: dor, medo, frustração, desespero. Eu podia sentir tudo isso em mim mesmo, na minha pela, na minha carne, afiado como ponta de faca. Divertido e fascinante.
Fiz parte do caminho meio tropegamente, meio bêbado. Era como se fosse eu e, ao mesmo tempo, não fosse, uma sensação esquisita. Caminhei silenciosamente até chegar na garota. Eu já a tinha visto alguns dias antes, só mais uma universitariazinha frívola e vulgar, uma loira vagabunda que se exibia em shortinhos indecentes, indecentes como eram seus modos perante às pessoas. Mas acredite, eu não sou nenhum tipo de religioso hipócrita que condena a vida dos outros, não baseei minha escolha nesse fato. Foi totalmente aleatório: eu a vi e senti que precisava ser ELA. Então comecei a segui-la, vi onde ia, lugares que freqüentava. Vi onde morava. Daí até invadir sua casa e matá-la, foram apenas três dias. Três dias de uma doce e incontrolável espera, que só foi saciada quando agarrei violentamente seu pescoço até que perdesse os sentidos. Ela não deu trabalho algum, foi uma coisa simples como tirar doce de criança, que me perdoem o clichê. Ela caiu, despencou inerte no piso. Uma boneca velha atirada ao chão, uma boneca suja, corrompida, perdida em meio à vida desenfreada, à vida maltrapilha. Preciso admitir: ela era linda, do tipo que todo cara perderia a cabeça facilmente. Belos e longos cabelos loiros naturais, pernas compridas e torneadas, seios perfeitos entrevistos pelo decote do Top e uma face angelical, digna de uma pintura de Picasso no seu dia mais inspirado. Mas a beleza é como a vida: volátil, relativa, superficial, passageira. Se passa num momento como rosas murcham. Se passa num instante como pássaros batem as asas e voam sem destino. Ela devia saber disso, creio, por isso dava tanto valor à aparência, por isso preocupava-se tanto em privilegiar seu exterior e matar seu interior. Garotas burras, acho-as divertidas. Elas correm. Elas lutam. Elas choram muito. E, no final, viram presas perfeitas, tolas e fracas. Ah, eu as adoro.
Preciso descrever como foi lindo o que fiz? Ah, eu preciso sim, é a melhor parte, A MELHOR. A faca que carregava em meu cinto foi usada para desenhar uma bela e rubra linha em seu delicado pescoço. O sangue esguichou, esguichou em meu rosto. O senti quente em meus lábios, foi uma sensação quase erótica, deliciosa. Lambi meus lábios para provar o sangue fresco daquela garota. Me senti excitado, muito excitado. Até morta ela servia para satisfazer um homem, não é irônico? Logo no primeiro corte já pude sentir que a vida se esvaiu rapidamente de seu corpo,e pensei em me aproveitar de seu corpo ali mesmo, para obter meu mórbido prazer sexual, mas desisti, por fim. Havia algo mais importante a ser feito. Com a faca, me enderecei a seu rosto, seu perfeito rosto, para fazer um belo desenho nele. Pressionei a ponta da lamina em um ponto especifico, perto da têmpora, e penetrei na carne. Sentia incontrolavelmente a faca rasgando seu rosto, talhando de cima para baixo, fazendo uma simetria perfeita. Fui circundando suas formas faciais, até completar uma forma circular. Havia visto isso em um livro de ocultismo, onde rituais de invocação demoníacos eram divididos com anatomia humana e formas de tortura. Um livro sobre demônios, cães do inferno, estatuas aladas petrificadas, entre outras coisas sobrenaturais. E saiu direitinho como no livro: a sua face simplesmente “descolou” lentamente ao meu puxar. Eu tinha o rosto da garota em minhas mãos, como uma máscara obscena. E era tudo que eu queria,a sua face. Tudo.
Depois disso, não lembro de quase nada. Sei que apaguei e não lembro bem onde fui parar, mas sei que fui pego. Não sei o que deu errado dessa vez, nunca havia acontecido isso comigo antes. Eu sempre fui tão preciso, tão perfeito, mas agora eu me dei muito mal. Agora estou aqui, nessa maldita cela de delegacia, ouvindo esses porcos fardados falarem sobre Donuts, casos de homicídios e vitimas. Eu os ouvi falarem sobre a tal garota: se chamava Jessica, Jessica Daniels. 19 anos, caucasiana, filha única e todo aquele bla bla bla policial insuportável. Diziam que foi encontrada retalhada em casa, com a face removida e com cortes desenhados diabolicamente por todo o corpo, como numa forma de ritual satâncio. Mas ora, eles não sabem enxergar a arte onde ela existe de verdade? Tolos. E, no fim, eu só lembro de ter sua face em minhas mãos . Nada mais até despertar nessa cela pútrida.
E então, aqui estou eu. Numa cela de delegacia, com ele do meu lado. Sabe, ele é realmente um cara bacana. Sujeito bem arrumado, boa pinta, de fala mansa e hipnotizante. Não me critica, não me recrimina nem me julga, ao contrário do que fazem todos os outros que não entendem o porquê de fazer o que faço. Ignorantes miseráveis, deveriam ser como esse sujeito aqui. “Boa, garotão”, ele me diz, apontando o polegar pra cima. Eu gosto dele, realmente gosto.
Pena que só existe na minha cabeça. Ele me faz sentir o que os outros sentem, e isso é bom para saber o que meus atos provocam.
E então, você já ouviu passos lá fora?

4 comentários:

  1. caraleowwwwww pirei nesse texto muito bem feito o math math medo mesmo rs

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  2. como sempre vocabulario rico
    um conteudo sempre envolvente
    e dessa vez bem radical
    aterrorizante
    chocante
    simplesmente perfeito e brilhante Math!
    Parabens

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  3. Gente!
    Sério, eu nunca me decepciono com seus textos. E também nunca espero o que você vai escrever. Parabéns :}

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